
MENINO DA JANELA
Roubei aquele olhar triste
da janela
e corri por um labirinto
até a minha infância.
Olhar magro
em calção e botinas
a só querer como consolo
a chupeta em sua boca.
Ás escondidas
dobrei a rua - e os anos
carregando na memória
o menino da janela.
Dantas de Sousa
O SINO
Bate um sino ...
Jaz morto,
Um corpo estendido ao chão.
De balas foram duas,
Traspassadas no coração.
Esquecido sobre a terra quente,
Escorria-lhe sobre a roupa parda,
Todo o rubro sangue.
E a alma efervescente
Evapora-se solitária, langue.
Tão jovem! Tão franzino!
Rebolado a luz do tempo
O corpo desfalecido enrijecia
Ao olhar atento da vida.
Parecia ser um menino.
O fardo que a vida lhe deu
Foi de farto encargo
E muito peso.
Sem meter medo
O destino lhe tirou
Do mundo dos viventes
Muito cedo.
Francisco José Franco Macedo
HOJE
Hoje eu quase fui
Sincero,
Honesto,
Austero,
Discreto,
Concreto,
Ouvinte,
Falante,
Tocante,
Sensível.
HOJE,
Eu quase vivi.
Eduardo Ribeiro
(com fotografia do autor)
Há em cada homem um rio que flui
e cada água nova
repõe a água passada
Quem sabe dos mistérios desse rio ?
Quem pode medir, em águas novas,
a fluidez incessante do tempo ?
Quem sabe de que maravilhosa fonte
jorra o fluxo vital desse rio ?
Que correnteza é essa que, implacável,
sendo a essência que habita o homem,
faz do homem o rio e o arrasta
para o desconhecido mar ?
Por que esse rio não consegue,
por duas vezes, fluir em um mesmo homem,
e nenhum homem consegue, por duas vezes,
banhar-se em um mesmo rio ?
Em que profundo e infinito mar
Deus se eterniza bebendo
a impermanência de tantos rios?
Quem pode medir, em águas novas,
a fluidez incessante do tempo ?
Quem sabe de que maravilhosa fonte
jorra o fluxo vital desse rio ?
Que correnteza é essa que, implacável,
sendo a essência que habita o homem,
faz do homem o rio e o arrasta
para o desconhecido mar ?
Por que esse rio não consegue,
por duas vezes, fluir em um mesmo homem,
e nenhum homem consegue, por duas vezes,
banhar-se em um mesmo rio ?
Em que profundo e infinito mar
Deus se eterniza bebendo
a impermanência de tantos rios?
Rosembeg Cariri
DESTINO
Destino
águas vivas
águas calmas
a Vida apresenta
eu bato palmas..
João Nicodemos (Crato-CE)
Água
Beleza mesmo é o Cariri no inverno,
época das chuvas.
Há quem prefira o seco e tórrido sertão,
e nele vislumbre uma beleza austera,
simples e luminosa como a antiga paisagem da terra santa.
O deserto esteve fincado dentro de mim,
áspera miragem.
Por falta de água em meu mapa astrológico
a estação das chuvas é oásis,
vida e encantamento.
Que me cubra o nevoeiro!
Relâmpagos e trovões:
estrondem na barra do meu horizonte
dias,
noites,
néctar.
Assis Lima (Crato, CE)
Vai ele a trote, pelo chão da serra,
Com a vista espantada e penetrante,
E ninguém nota em seu marchar volante,
A estupidez que este animal encerra.
Muitas vezes, manhoso, ele se emperra,
Sem dar uma passada para diante,
Outras vezes, pinota, revoltante,
E sacode o seu dono sobre a terra.
Mas contudo! Este bruto sem noção,
Que é capaz de fazer uma traição,
A quem quer que lhe venha na defesa,
É mais manso e tem mais inteligência
Do que o sábio que trata de ciência
E não crê no Senhor da Natureza.
Patativa do Assaré
TELHA DE VIDRO
Quando a moça da cidade chegou
veio morar na fazenda,
na casa velha...
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha...
veio morar na fazenda,
na casa velha...
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha...
A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...
Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que — coitados — tão velhos
só hoje é que conhecem a luz do dia...
A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa...
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que — coitados — tão velhos
só hoje é que conhecem a luz do dia...
A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa...
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.
Que linda camarinha! Era tão feia!
— Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão...
Por que você não experimenta?
A moça foi tão bem sucedida...
Ponha uma telha de vidro em sua vida!
— Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão...
Por que você não experimenta?
A moça foi tão bem sucedida...
Ponha uma telha de vidro em sua vida!
Rachel de Queiroz
















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