terça-feira, 23 de agosto de 2011

UMA FOTO ... UMA POESIA! EDUARDO EDUCARIRI


Homenagem


EDUARDO RIBEIRO

"Um amante  da poesia e da fotografia ...
Sem muito conhecimento ...
Só o suficiente para amar ..."




"QUANDO A GENTE SE DEPARA
COM GENTE QUE EMANA VIDA,
FLUI DOS OLHOS
VINDO D'ALMA
UM CLARÃO
QUE OFUSCA E CEGA
QUEBRANDO O MANTO NEGRO,
CEGANDO QUEM JÁ NÃO VIA."
                                            
Eduardo Ribeiro

















( por Eduardo)

Hoje é 24 de Agosto, DIA DO ARTISTA

Aquele ser especial
iluminado por natureza
que se utiliza de diferentes linguagens
para , com toques de magia ...
No olhar,
Na voz,
Nas mãos,
Nos gestos,
Na mente,
Na alma,
No coração ... 
 Acariciar a alma de  seus expectadores ...

(Ivonete C. Ribeiro)



AOS POETAS DO CARIRI ...DO SERTÃO... DO MUNDO...








MENINO DA JANELA




Roubei aquele olhar triste
da janela
e corri por um labirinto
até a minha infância.
Olhar magro
em calção e botinas
a só querer como consolo
a chupeta em sua boca.
Ás escondidas
dobrei a rua - e os anos
carregando na memória 
o menino da janela.

Dantas de Sousa 



O SINO



 Bate um sino ...
Jaz morto,
 Um corpo estendido ao chão.
De balas foram duas,
Traspassadas no coração.
Esquecido sobre a terra quente,
 Escorria-lhe sobre a roupa parda, 
Todo o rubro sangue.
E a alma efervescente 
Evapora-se solitária, langue.
Tão jovem! Tão franzino!
Rebolado a luz do tempo
 O corpo desfalecido enrijecia
Ao olhar atento da vida.
Parecia ser um menino.
O fardo que a vida lhe deu
Foi de farto encargo
E muito peso.
Sem meter medo
O destino lhe tirou
Do mundo dos viventes
Muito cedo.
Francisco José Franco Macedo






HOJE



Hoje eu quase fui
Sincero,
Honesto,
Austero,
Discreto,
Concreto,
Ouvinte,
Falante,
Tocante,
Sensível.
HOJE,
Eu quase vivi.
Eduardo Ribeiro
(com fotografia do autor)

                                    








Há em cada homem um rio que flui
e cada água nova
repõe a água passada
Quem sabe dos mistérios desse rio ?
Quem pode medir, em águas novas,
a fluidez incessante do tempo ?
Quem sabe de que maravilhosa fonte
                  jorra o fluxo vital desse rio ?

Que correnteza é essa que, implacável,
sendo a essência que habita o homem,
faz do homem o rio e o arrasta
                       para o desconhecido mar ?

Por que esse rio não consegue,
por duas vezes, fluir em um mesmo homem,
e nenhum homem consegue, por duas vezes,
                        banhar-se em um mesmo rio ?

Em que profundo e infinito mar
Deus se eterniza bebendo
a impermanência de tantos rios?

                               Rosembeg Cariri

                 
                    DESTINO


Destino
águas vivas
águas calmas

a Vida apresenta
eu bato palmas..

João Nicodemos (Crato-CE)




 


Água






Beleza mesmo é o Cariri no inverno,
época das chuvas.
Há quem prefira o seco e tórrido sertão,
e nele vislumbre uma beleza austera,
simples e luminosa como a antiga paisagem da terra santa.
O deserto esteve fincado dentro de mim,
áspera miragem.
Por falta de água em meu mapa astrológico
a estação das chuvas é oásis,
vida e encantamento.
Que me cubra o nevoeiro!
Relâmpagos e trovões:
estrondem na barra do meu horizonte
dias,
noites,
néctar.



Assis Lima (Crato, CE)
                 
                                               O                    BURRO


Vai ele a trote, pelo chão da serra,
Com a vista espantada e penetrante,
E ninguém nota em seu marchar volante,
A estupidez que este animal encerra.

Muitas vezes, manhoso, ele se emperra,
Sem dar uma passada para diante,
Outras vezes, pinota, revoltante,
E sacode o seu dono sobre a terra.

Mas contudo! Este bruto sem noção,
Que é capaz de fazer uma traição,
A quem quer que lhe venha na defesa,

É mais manso e tem mais inteligência
Do que o sábio que trata de ciência
E não crê no Senhor da Natureza.

Patativa do Assaré



TELHA DE VIDRO



Quando a moça da cidade chegou
veio morar na fazenda,
na casa velha...
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha...
A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...
Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que — coitados — tão velhos
só hoje é que conhecem a luz do dia...
A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa...
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.
Que linda camarinha! Era tão feia!
— Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão...
Por que você não experimenta?
A moça foi tão bem sucedida...
Ponha uma telha de vidro em sua vida!

Rachel de Queiroz

sábado, 20 de agosto de 2011

"SER POETA É SER ARTISTA ... É SABER DA VIDA"

DIA DO ARTISTA  
24 DE AGOSTO

UM BRINDE AOS ARTISTAS DA PALAVRA


"Há um tempo
em que é preciso
abandonar as roupas usadas
que já têm a forma do nosso corpo
e esquecer os nossos caminhos
que nos levam sempre aos mesmos lugares...
É o tempo da travessia
e, se não ousarmos fazê-la,
teremos ficado para sempre
à margem de nós mesmos."

Fernando Pessoa
(por ele me




"Ser Poeta"


Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

   Florbela Espanca


Obras de Vincent Van Gogh

O Auto-Retrato

No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...
Às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
Ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...
E, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
No final, que restará?
Um desenho de criança...
Terminado por um louco!
 

Mario Quintana

                              



Ferreira Gullar

Me Leve
(Canção pra não morrer)




Quando você for se embora,
moça branca como a
neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento

 




Cora Coralina






Coração é terra que ninguém vê

Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Sachei, mondei - nada colhi.
Nasceram espinhos
e nos espinhos me feri.

Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Cavei, plantei.
Na terra ingrata
nada criei.

Semeador da Parábola...
Lancei a boa semente
a gestos largos...
Aves do céu levaram.
Espinhos do chão cobriram.
O resto se perdeu
na terra dura
da ingratidão

Coração é terra que ninguém vê
- diz o ditado.
Plantei, reguei, nada deu, não.
Terra de lagedo, de pedregulho,
- teu coração.

Bati na porta de um coração.
Bati. Bati. Nada escutei.
Casa vazia.
Porta fechada, foi que encontrei...


 
"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina."


 "O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher."